segunda-feira, 22 de junho de 2009

Para Solange e Carlos

Em espaços e tempos virtuais
Virtuosas almas não se cansam jamais
Amam

Da beleza fazem tempo
E acalentam gente, crianças
Criam portos seguros
Onde Deus faz suas moradas

Nos olhos da caixa raptam licitamente
O sol, as estrelas, o reflexo delas e da lua

Nos pássaros e flores
Cores são sopros de vida

Matizes de pretos e brancos
Sombras são nuances ou semitons do ato de amar.

Crônicas do dia a dia

Um grande amor

Algumas coisas nos são dadas saber sobre o encontro de um grande amor.
Sabemos quando encontramos um.
Quando é engano, ilusão, logo percebemos.
 
Sabemos tb que um grande amor não se constrói - ele já vem pronto - ao contrário, levamos, muitas vezes, anos das nossas vidas lutando para desconstruir nosso amor.
Ao fim nos destruímos, sofremos como
condenados, abandonados por Deus
e o grande amor esta no mesmo lugar.
Se pudesse-mos sempre nos superar, superar nossos demônios, ele estaria lá a nossa espera com a mesma força e a mesma graça do dia em que o descobrimos, que pronunciamos mil vezes, sem cansar, as três palavras mágicas em muitos tons e sabores; EU TE AMO.
 
Quando estamos muito carentes, podemos nos iludir de ter encontrado um grande amor e vamos nos esforçando para isso ser verdade, mas se somos honestos, não permitimos que isso se prolongue por muito tempo.
Quando acontece de prolongar, nos acostumamos e vamos "fingindo que estamos vivendo", quando na verdade estamos assassinando nossa vida, todos os dias um pouquinho.
 
Não acredito que viver um grande amor masculino/feminino seja a única forma de nos sentirmos vivos, de vivermos uma "vida viva". Muitos santos e santas iluminados viveram em plenitude se entregando de corpo e alma a uma causa e isso os levou a picos de prazer e gratidão inimagináveis a quem não conhece a experiência da caridade/amizade/solidariedade/fraternidade.
Se aproximam da plenitude do amor também os desportistas, os artistas, os loucos malditos por dizer e viver o que ninguém tem coragem, mas que lateja em toda humanidade.
 
Mas voltemos ao nosso amorzinho individual.
Não desconstruir um grande amor até impossibilita-lo (ou desconstruir só até o ponto de possível retorno). Preserva-lo é uma decisão existencial com o mesmo caráter, feita do mesmo barro que constrói um império ou uma religião, sendo que ele ainda é superior, pois impérios (religiões não) mas impérios somem, viram estórias.
 
O segredo sagrado de um casal é só uma combinação tácita - silenciosa - de só brigar a dois, de saber, sem sombra de dúvida, para si e para o seu amante, que erro e acerto são manifestações bilaterais, ou seja: tudo que um faz, ou diz, que incomoda, metade foi gerada no outro - *magicamente (de modo sutil, não perceptível aos cinco sentidos) - e tudo que um faz e diz de bom, de maravilhoso foi inspirado no outro, do mesmo modo mágico - a ação foi de um mas o, digamos assim, "pensamento criador" o "impulso criador" que "fez" o que agiu, agir, veio do outro. E assim se revesam sem planejamento consciente. Entre grandes amores/amigos que não são amantes sexuais/genitais também rola isso.
 
Portanto o "segredo sagrado" de um casal que perdura e mantém acesa a chama do seu grande amor é o exercício diário  de manutenção de um pacto: só nós dois podemos brigar, um com o outro. Brigar é como trepar - estamos brigando por nós e pela manutenção do nosso prazer e da nossa glória - se brigamos na frente de alguém, este alguém terá que ir conosco até participar do nosso afeto - ele terá que testemunhar os dois lados da moeda - caso contrario estaremos fragilizados, desacreditados, perdemos poder.
    Sempre que desabafamos para outra pessoa, corremos o risco de minar a força do nosso amor. É como cometer um sacrilégio.
 
As vezes os demônios nos atentam tanto que quando lemos uma revelação como esta corremos para o(a) nossa(o) confidente  e dizemos: Olha ai o que "ele" faz com nosso casamento! Pronto, ele se borrou na entrada e vc na saída. Ele fez a merda e vc contou. Perderam todos suas chances de rever o erro, de fazer a coisa certa. O silêncio é fundamental para o êxito. Não precisamos dizer nada nem fazer nada, as coisas sempre tendem naturalmente mais para o acerto do que para o erro. Me explico: quando estamos no erro, só tendemos para o acerto é "automágico" . Já se alguém aponta o erro é como dar um empurrão na lateral de um balanço, interrompendo seu ato de retornar ao outro lado. O que podemos fazer é uma força favorável na mesma direção da tendência ou seja, do que seria o acerto. Reclamar de um erro é se identificar com ele.
 
Intervalo

Enquanto escrevia esta demanda, na minha simpática, pequenina e solitária casa rosa, bateu a minha porta um jovem de aproximadamente 18 anos, com cara de miserável. Perguntei o que queria e antes que ele termina-se sua enfadonha choradeira, o interrompi, ternamente e perguntei se estava com fome. Poderia perguntar se ele queria ler alguma coisa, mas livro era a coisa minha do momento. Se fosse dele pedia sem pudores, que livro é coisa inocente, agente é que faz dele isso ou aquilo.
Com um sorriso, contrapondo ao seu olhar tristonho, dei-lhe frutas.
    Dinheiro tb se pode dar, mas só quando se conhece bem a pessoa e se sabe que naquele momento só o dinheiro pode ajudar, senão estamos fazendo o contrario da nossa intenção - destruímos a pessoa dando-lhe dinheiro - perdemos a fé - dar dinheiro na maioria das situações de esmola é um ato de preguiça. Pagamos para nos livrar, rapidamente da imagem da nossa própria miséria.
    O que é diferente de uma criança, com seus amigos, te pedir 10 centavos. Provavelmente estão juntando os trocados para comprar linha e papel para fazer pipas. Dou 10 a cada um sem pestanejar e já estou no céu curtindo as pipas e as nuvens. Ou um velho(a) doente que provavelmente tem todos os meses sua aposentadoria roubada pela família e resolveu debandar. Só a esmola pode socorre-lo. Me sinto igual a todos os mendigos, num mundo de falsas impressões.
 
Fim do intervalo.
 
Só conheci uma coisa, sensação, atos, tão importantes e relevantes e grandiosos quanto o trabalho de manter e cuidar de um grande amor a dois - feminino/masculino. Me refiro ao trabalho social, comunitário, o constante desafio de manter-se unida e unido, amorosa mente  a uma comunidade a uma coletividade, fazer de uma coletividade, uma comunidade que acolha e dê afeto suficiente a todos os seus membros, crianças, casados, solteiras, loucos, velhos, lideres e acomodados, bichos(as) e plantas. Até os insetos(as) passam a ser compreendidos(as) e amados é maravilhoso. E os casais que vivem no contexto de uma comunidade exitosa (com êxito) tem muito mais possibilidade de se sair bem nas suas tarefas de preservar seus grandes amores.
Salve salve o nosso brasil varonil esperança e fé do futuro do nosso planeta, salve as gentes do mundo, nos salvemo-nos de nós mesmos. Ai! cai do balanço!
 
Vasco Z. Aguzzoli